O avanço da Medicina de Precisão na Reprodução Humana

Por Eduardo Leme Alves da Motta, especialista em Reprodução Humana pela Huntington Medicina Reprodutiva e Professor Adjunto do Departamento de Ginecologia da UNIFESP. CRM: 58.933

 

A Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que a infertilidade acomete até 15% da população, mas com a dramática mudança nos hábitos atuais, na qual as mulheres tendem a adiar a maternidade, seguramente estas taxas já são muito maiores. Essa postergação explica uma demanda crescente em procedimentos de reprodução assistida.

 

Já a forma de tratar permanece a mesma e tem o objetivo de estimular de forma exagerada a ovulação, por meio da administração de hormônios, similares aos produzidos ao longo do ciclo menstrual nas mulheres, para recuperar o maior número possível de óvulos, que serão fertilizados para a formação de vários embriões e os melhores destinados à cavidade uterina. 

 

A medicina de hoje busca individualizar os tratamentos, pois reconhece que cada pessoa tem suas próprias particularidades, demandando abordagens específicas. Logo, nem todos devem se submeter a um protocolo único. Na oncologia, isto já é uma realidade. Os tratamentos não se baseiam apenas em grandes cirurgias mutiladoras, mas sim em avaliar como a célula maligna se comporta e a partir daí uma combinação de estratégias é aplicada. 

 

A medicina reprodutiva também começa a revolucionar sua forma de estimular a ovulação, buscando melhores resultados e menos efeitos adversos como dor e desconforto. Recentemente, a indústria farmacêutica disponibilizou uma nova gonadotrofina (hormônio que estimula os ovários), chamada de delta folitropina e sua aplicação é baseada em determinados parâmetros:

 

1 – Reserva de óvulos

O passo inicial é predizer a resposta ovular de forma individualizada. Podemos estimar o potencial reprodutivo através da ultrassonografia, porém só pode ser realizado durante uma época específica do ciclo menstrual. Atualmente, o grande marcador é o Hormônio Anti-Mulleriano ou AMH (Anti-Mullerian Hormone), inibidor do processo de seleção e ativação dos óvulos. Ele é mensurado na circulação sanguínea e tem liberação constante, não variando ao longo do ciclo. Logo quanto maior a reserva ovular, maior a quantidade de AMH. 

 

2 – Peso corporal

A delta folitropina teve todo seu estudo clínico condicionado ao peso corporal da paciente e à reserva dos ovários (nível de AMH), de tal modo que foi construído um algoritmo com base nesses 2 parâmetros, que está disponível na forma de aplicativo de celular, no qual o médico determina a melhor dose para cada paciente, sem necessidade de ajustá-la ao longo do tratamento. A maioria dos protocolos anteriores não considerava o peso das mulheres como uma medida determinante da resposta ovariana à estimulação. Neste sentido, mulheres magras ou obesas recebiam a mesma quantidade de medicação e sua variação seria determinada apenas pela idade. 

 

3 – Modificação estrutural das gonadotrofinas

Em meados dos anos 1950, os hormônios eram purificados a partir da urina de mulheres na menopausa, que os produziam em grande quantidade como mecanismo compensatório no intuito de recuperar a insuficiência dos ovários. Além da enorme variação, sabe-se que uma série de impurezas estão também presentes nestes preparados.

 

A engenhosidade humana foi tamanha que se conseguiu sequenciar o gene responsável pela produção de gonadotrofinas e, através de um requintado processo, foi possível replicar em células de roedores esta mesma sequência gênica, para a produção exata deste hormônio, mas agora em ambiente laboratorial e estável.

 

Contudo, embora se trate da mesma estrutura hormonal, sua configuração e capacidade de ligação às células do ovário pode ser um pouco diferente. Já a delta folitropina é produzida por célula humana, conferindo uma ligação mais estável e equilibrada, potencialmente determinando uma melhor ação para o correto crescimento do óvulo.

 

Pelo que se vê, a tecnologia vem para nos ajudar a trazer medicamentos mais efetivos, de melhor resposta e que produzem menores efeitos colaterais e mais adaptados à realidade de cada um. 

 

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